sexta-feira, 15 de novembro de 2013

O melhor dos meus dias #1 [estranha forma de vida]


Este exercício não é fácil para um lusitano! Nós não somos culturalmente felizes! O povo português "sofre" de uma nostalgia permanente, dos dias bons que se foram, dos dias bons que ainda não vieram, sofremos de saudade de tudo e mais alguma coisa, mas afinal é isto que nos define enquanto povo. Queixamo-nos de tudo, reclamamos imenso, mas também damos valor ao que somos e temos, principalmente quando vemos alguma das nossas tradições inferiorizadas, algum português satirizado, aí levantamos as nossas "armas" como no hino e corremos tudo à padeirada como em Aljubarrota. Por um lado é pena sermos assim, mas por outro, tudo isto é fado!

É-me particularmente difícil este exercício, eu tenho mesmo alma lusitana e que orgulho tenho disso! Apercebemo-nos desta tristeza característica quando olhamos para um brasileiro que apesar de pobre e de viver inseguro numa favela qualquer, consegue mesmo assim, manter um sorriso constante na cara todos os dias e rir-se da própria miséria! Agora dizem-me vocês, o sol e o calor fazem maravilhas ao humor de qualquer um! Então se assim é devíamos ser os europeus mais felizes. Nós, os gregos, nuestros hermanos espanhóis e os italianos. Agora olho derrepente para esta lista e parece-me que temos muito em comum, inclusive uma conjuntura de crise. Porque será? Li outro dia no blogue que lançou este desafio mensagens de pessoas com vidas profundamente marcadas e que conseguem no meio da escuridão encontrar sempre uma luz que ilumine cada um dos seus dias. Pessoas que comentavam que talvez seja nos dias mais tristes, nas situações limite de perda que sentimos uma maior necessidade de fazer este exercício de esperança.

Será por isso que os países com menos sol, menos calor, menos motivo para serem felizes constroem com esforço e determinação a sua própria felicidade? É só pensarmos nos escandinavos. Nós os europeus do Sul, que temos o sol, o calor do mediterrâneo, as ilhas paradísiacas e as melhores praias de sempre nunca precisámos de construir a felicidade, ela foi-nos concedida, o problema talvez seja querermos aproveitar esta dádiva ao máximo e gastarmos todos os nossos recursos nisso, os que temos e os que não temos. Somos um povo de fé, se Deus nos concedeu o milagre de termos uma terra tão linda e tão boa de se viver, talvez também nos salvemos da catástrofe sócio-económica em que nos encontramos por obra e graça do espírito santo. Ou talvez El rei D. Sebastião regresse das brumas para nos salvar. Somos heróis, não somos mártires, não estamos habituados a sacrifícios. Que estranha forma de vida!

No entanto sempre fiz este exercício antes de entrar no ano novo, mas diariamente parece-me ser muito mais gratificante. Todos os finais de ano faço uma lista de agradecimento pelo que consegui alcançar e uma lista das minhas aspirações para o ano seguinte, sempre agradecendo como se já estivessem todas realizadas (é a lei da atração). Este ano pela primeira vez durante as doze badaladas da meia-noite em vez de pedir desejos, agradeci.

Realmente a boa energia gera ainda melhores energias,no entanto tenho tendência a praticar melhor este exercício depois de ver o telejornal, coisa que costumo evitar, não lido bem com a desgraça alheia, e fico com vontade de chorar sempre que vejo as notícias. Infelizmente só depois de estar em contacto com as tragédias dos outros é que me apercebo do quão feliz sou. Por ter uma família maravilhosa, por ter uma casa, um carro novo, por ter um emprego que adoro e que me permite manter estas coisas que tenho e ainda sonhar em ter mais. E isto é sempre o melhor dos meus dias, ser mãe do meu filho, mulher do meu marido, filha dos meus pais, sobrinha e afilhada do meu tio/padrinho, por ser prima dos meus primos, sobrinha dos meus tios, neta dos meus avós, por ter memórias felizes do que já não tenho, do que perdi, dos que perdi, por ser amiga dos meus amigos, por ser educadora ambiental, por trabalhar com pessoas, com crianças, com animais, por dançar, por ser portuguesa, por ser lisboeta,por ainda conseguir sonhar, por ser quem sou!

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