quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Dançar "O Ventre"

Dançar grávida foi umas das experiências mais enriquecedoras que já vivi. Infelizmente não sou daquelas mulheres que acha que estar grávida é um estado de graça lindo e maravilhoso e que coloca um sorriso doce na cara permanente, enquanto carrega um peso descomunal que faz despoletar dores em lugares nunca dantes imaginados. A maternidade é realmente uma bênção, mas o caminho até à mesma não é, na minha opinião, um mar de rosas, ou então até é, mas com muitos espinhos. As dores que surgem não sabemos de onde, as noites mal dormidas, os pés inchados com o calor e principalmente, as variações de humor que o cocktail de hormonas provoca em nós, não são de todo uma visão celestial. No entanto, no meio desta visão que mais parece infernal encontrei um pedacinho de paraíso, a dança. Dançar grávida fez-me perceber o funcionamento interno do meu corpo como nunca tinha percebido antes e o prazer físico e emocional que se pode retirar do simples movimento, orgânico e natural, que há em todas nós. A maioria das pessoas que pratica dança como hobbie esquece-se que a dança é uma arte, dançar é e deverá sempre ser um processo criativo. Existe a tendência de se pensar uma aula de dança como um processo de transmissão de informação em que o(a) aluno(a) imita os movimentos do(a) professor(a) vendo a sua imagem reflectida no espelho de forma a perceber se os está a executar na perfeição. E nesta frase temos palavras que tratei de riscar pois não deveriam ser usadas em qualquer tipo de processo criativo. Ora se um movimento está a ser imitado/copiado não está a ser criado, logo estamos a anular todo e qualquer processo criativo/artístico. O erro está em ver-se o processo de aprendizagem como uma mera transmissão de conhecimentos que acontece de fora para dentro e não de dentro para fora e isto serve em dança como em qualquer processo de aprendizagem, seja ele artístico e/ou educativo. Garanto que se a criatividade e autonomia de pensamento fossem mais estimuladas na escola, a motivação para aprender seria muito maior, mas isto são outros 500 acerca do ensino de que um dia pretendo também falar aqui. Temos mais 4 sentidos para além da visão que nos esquecemos de usar e que em dança, ou em qualquer forma de arte são fundamentais. Fechar os olhos e abrir o coração muitas vezes é o caminho! Sentir a música, não só ouvindo-a mas sentido o seu ritmo no chão, através dos pés, sentir a música e o movimento através do contacto com o outro, aprender o movimento de dentro para fora torna-o natural e orgânico e o mais importante, criativo, pois cada um de nós dança um mesmo movimento sempre de forma diferente, existe sempre uma interpretação e criação individual e nunca deverá haver uma mera execução artificial e mecânica por meio de uma imagem que não somos nós autênticos, reflectida num espelho. Toda e qualquer forma de arte é, ou deveria ser, um processo de auto conhecimento em que nos (re)criamos a nós próprios e nos reencontramos com o nosso eu mais profundo. Uma criação que começa dentro de nós e que se estende e manifesta no nosso corpo e posteriormente fora de nós e não o contrário. Assim é tão mais fácil e tão mais intuitivo dançar e deixar fluir a dança.

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