Em casa, nos dias de chuva, desde pequena que o meu pai me incutiu o gosto pela cultura, imaginem só que com 5 anos o meu jogo favorito era o das capitais, o meu pai perguntava-me qual era a capital de um país e eu respondia, outro jogo que fazíamos era o memories, utilizando os cartões do trivial pursuit o meu pai fazia-me perguntas e eu em tempo record tinha que responder a todas, um excelente modo de treinar a memória. Sou filha única no entanto nunca me senti só, ou estava na rua com os amigos ou estava nas festas com os meus primos, a brincar às escolas ou mesmo a fazer campeonatos de ginástica rítmica com arcos, bolas e massas. As minhas primas mais velhas ensinavam-nos inglês e alemão e fazíamos passagem de modelos com as roupas e maquilhagem das mães, enquanto os pais dançavam, comiam e bebiam na sala.
Quando era pequenina o meu avô contava-me histórias de animais, ele tinha um gosto especial pela vida selvagem, hoje sou uma professora de filosofia que trabalha como coordenadora pedagógica no Jardim Zoológico, vejo a minha profissão como uma soma de todos os jogos que fazia com o meu pai e das histórias que o meu avô me contava.
Num tempo em que não havia playstation passava horas a construir cidades de bonecas em casa das minhas amigas, como não havia karaokes na Internet ou na MEObox, púnhamos o gira-discos a tocar e cantávamos por cima das músicas. Também compúnhamos músicas infantis com coreografias e cobrávamos bilhetes para o espectáculo nos recreios da escola.
Num tempo em que não existia farmville o contacto com os animais era real quando íamos para o campo ou mesmo na cidade quando levávamos para casa caixas de sapatos com bichinhos da seda para vê-los transformarem-se em borboletas. Também cultivávamos na janela do quarto ou na marquise da cozinha copos com feijões para vê-los crescer.
Esperávamos ansiosamente pelos arraiais populares em Junho, onde comíamos sardinhas e nos encontrávamos ao som da música, à noite, no adro da igreja.
Quando as ruas não tinham nome e as crianças brincavam na rua até anoitecer, éramos mais solidários, criávamos mais defesas, respirávamos mais ar puro, éramos também mais saudáveis, de corpo e de espírito.
O bairro onde cresci é a freguesia da Portela, no concelho de Loures, e a rua dos 80, hoje chama-se Rua Pedro Álvares Cabral. Agora todas as ruas já têm nome e já ninguém se conhece, nem se cumprimenta na rua. Hoje as crianças da Portela e de tantos bairros de Portugal passam as férias fechadas em casa a jogar playstation ou a falar na Internet. Hoje as ruas já têm nome mas ninguém, sequer sabe, qual o nome delas…
Pois...sou desse tempo mas não da Portela, estudei lá e chegando ao Carnaval ir para a Gaspar Correia era tentar escapar dos balões, ovos e afins...mas eram tempos giros e o bairro não é o que era, nem com a própria escola me identifico. Espero que os nossos filhos saibam conviver com os amigos e com a natureza. Filha única? Nem sinais disso. Sou testemunha;)
ResponderEliminarInspirador e verdadeiro! Era o que gostava que o meu filho tivesse, a nossa infância e adolescência!
ResponderEliminare eu...nesse tempo esperava o autocarro em cima de uma árvore! e o arraial ainda era ao pé do seminário!!! grandes aventuras :)
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